29 de jul. de 2008

O segredo do futebol

O futebol é, sem dúvida, o maior esporte do mundo. Onde quer que você vá, tem neguinho praticando. E torcendo. Quais seriam, então, as razões pro sucesso global do esporte que é líder isolado do campeonato, quer dizer, do planeta? Com uma análise simples do jogo, podemos perceber algumas características essenciais para o fenômeno.

1 - Jogar futebol requer muito pouco: pra você jogar, basta ficar descalço. Ou seja, é só fazer uma bola com suas meias e usar os dois tênis pra demarcar um golzinho. Pronto. Ah, você também deve precisar de pelo menos uma pessoa pra revezar com você o cargo de goleiro. Jogar futebol não requer equipamentos ou instalações especiais: fator fundamental para que ele possa se difundir por comunidades e países carentes. Além disso, essa praticidade de poder jogar a qualquer hora é um fator positivo para que ele seja jogado mais e mais.

2 – Jogar futebol é muito simples: fora coisas como o impedimento, quase não há regras para atravancar um jogo de futebol. Basta não machucar o amiguinho e não utilizar os braços ou mãos. O jogo flui muito melhor dessa forma, e ele se torna mais acessível, tanto para jogar quanto para assistir e torcer.

3 – O futebol nivela os competidores: você nunca verá a seleção de basquete dos EUA perder para a equipe de Honduras. No entanto, você já viu a seleção brasileira de futebol perder para a de Honduras. Uma partida de futebol é uma caixinha de surpresas, e isso o torna muito mais interessante. Tipo um kinder ovo.

Dramatização
4 – São poucas, mas intensas, emoções: em uma partida de vôlei, você torce a cada ponto. Cada cortada no chão é uma comemoração, principalmente para os jogadores. O torcedor passa o tempo todo vibrando, mas só em um rally ou em um set ou match point ele terá uma grande emoção. No futebol, as coisas funcionam de outra forma. O jogo pode atingir uma monotonia que jogos como o vôlei ou o basquete não atingem (para o torcedor que gosta do esporte, é claro). No entanto, nas poucas vezes em que o placar é alterado, a emoção é extrema, podendo ser inesquecível. Essa recompensa menos freqüente e, por isso, mais intensa, torna o futebol mais apaixonante, e contribui para acentuar a paixão das torcidas pelo globo. Não há nada como um gol do seu time.

5 – O futebol é injusto: seu time jogou muito melhor. Atacou muito mais. Teve bem mais chances. Chutou muito mais ao gol. Mandou duas bolas na trave. Perdeu a chance de converter dois pênaltis, e mais outro deixou de ser marcado pelo juiz. Teve um impedimento mal marcado e um gol mal anulado. No entanto, o adversário cavou um pênalti que não existiu e marcou o gol que lhes deu a vitória. E te deu a derrota. Mas você bem que gostou. Todo mundo bem que gosta. A polêmica que há no futebol é outro fator que deixa ele mais provocante e caliente. Isso é possível na medida em que não há equipamentos eletrônicos para auxiliar e retificar o juiz. Além disso, o jogo é decidido pelos poucos momentos em que a bola passa da linha do gol. Um detalhe que nem sempre favorece o time superior. Uma pena. Afinal, o seu time é o melhor de todos, não é mesmo?

26 de jun. de 2008

Vergonha na cara

Todos nós já passamos por aquela situação de constrangimento total. Uma pergunta idiota em sala de aula, um hábito bizarro descoberto publicamente, um escorregão daqueles que todos em volta se seguram para não gargalhar.

Mas por que é tão ruim ficarmos envergonhados? Por que ficamos envergonhados, afinal? Será que rir da cara de um garoto que mijou nas calças vai ajudá-lo a se sentir melhor? Ou essa vergonha vai ensiná-lo uma lição?

Nelson demonstra sua técnica de zoação

A vergonha poderia ser uma punição que o nosso corpo nos impõe quando fazemos algo socialmente reprovável. Não queremos parecer retardados perante os que convivem socialmente conosco. Isso nos tiraria privilégios, nos faria, enfim, descer no conceito social. Dessa forma, o nosso corpo não pode “permitir” que coisas como uma pergunta muito burra passem impunes. Se passassem, não inibiríamos novas perguntas muito burras.

A vergonha, portanto, nos ensina o que é inadequado, ao relacionar uma sensação desagradável com atitudes reprováveis. O que é reprovável é definido pelos instintos e pela cultura da sociedade, em ação conjunta. Um exemplo: ser cuspido na cara em frente a outras pessoas, muito provavelmente, é motivo de vergonha em todas as culturas. Porém, culturas mais competitivas podem considerar uma derrota no totó um vexame, ao contrário de outras.

É claro que devemos considerar todas as nuances e particularidades. Elas existem. A timidez, por exemplo, pode ser uma reação exagerada do corpo nesse sentido, que pune sem motivo adequado.

Por extensão, poderíamos dizer que a “zoação”, ou seja, o ato de rir e fazer gozações às custas do outro com a sua presença, pode ser útil na moldagem de um comportamento social homogêneo e adequado. Talvez por isso ela seja tão praticada na nossa fase de desenvolvimento, quando moldamos nosso comportamento: a infância e a adolescência.

Será que devemos deixar nosso filho rir do garoto chorão?

24 de jun. de 2008

Grisalho bonito, grisalha feia

É praticamente unânime o fato de que cabelos brancos não são grande problema para nós, homens, podendo até melhorar a nossa aparência. No entanto, nenhuma mulher quer ver um cabelo branco furtivo no espelho, nem o homem (quer ver na mulher). Por que será, então, que geralmente cabelos brancos ficam melhores em homens do que em mulheres?

Quem é mais atraente: esse rapaz ou essa moça? Não, não estou perguntando a sua orientação sexual.

A explicação que vem imediatamente à minha cabeça tem base evolucionista. A mulher, após a menopausa, passa a não poder mais gerar filhos. Como a atração sexual tem como objetivo a reprodução, uma mulher envelhecida perde rapidamente o seu apelo sexual. Os cabelos brancos indicam envelhecimento. Logo, cabelos brancos em mulheres não são atraentes.

Já os homens podem gerar filhos a vida toda. Principalmente agora com esses remédios novos por aí. O envelhecimento no homem, portanto, não significa que ele não é mais útil pra reprodução. Dessa forma, ele mantém seu apelo sexual perante o gênero oposto. Os cabelos brancos, então, não prejudicam a aparência de um homem tanto quanto prejudicam a das mulheres.

É claro que cada caso é um caso, a dona lá da mercearia da esquina tem cabelos brancos e é muito linda, mas estou tratando de tendências. Além disso, existem diferenças entre uma aparência agradável e uma atraente. Se, mesmo assim, você não suportar a idéia de que a sua mãe é feia, aquele botãozinho em formato de “xis”, lá em cima, é a solução pra você.

23 de jun. de 2008

O poker e os vieses psicológicos

Estava lendo um livro sobre psicologia que falava de vieses que podem influenciar nosso julgamento. Sob efeito dessas distorções, acabamos por tomar decisões equivocadas. Enquanto lia cada uma das explicações, eu percebi que podemos ver a maioria delas acontecendo em um típico jogo de poker.
Se você não conhece o jogo, esse post pode não fazer sentido nenhum para você (ainda mais por que estamos falando da modalidade Texas Hold’em). Recomendo então que você aprenda a jogar com a sua avó, agende uma jogatina semanal e sofra à medida em que vai se endividando...
Após isso, junte-se àqueles que não são completamente ignorantes e veja como alguns vieses psicológicos ficam evidentes em um jogo de poker, e, quem sabe, acabe aprendendo alguma coisa:

- Viés do Excesso de Confiança: acontece quando superestimamos nossa capacidade de obter sucesso diante de uma situação. O interessante é que ele geralmente acompanha quem tem menor habilidade e experiência em determinado meio. No poker, um jogador experiente pode fazer uma aposta cautelosa com uma trinca, temendo que alguém tenha um straight, enquanto em outro caso um iniciante pode apostar demais em um par alto por achar que se trata de um excelente jogo. Algumas vezes, irritantes, por sinal, ele pode até sair ganhando. Porém, na maioria das vezes ele se dará mal (ou assim esperamos).

- Viés de Confirmação: ocorre quando procuramos, sem perceber, somente as evidências que confirmem alguma suspeita ou idéia que temos, ignorando outras informações. Quando ficamos pessimistas e começamos a resmungar pra nós próprios que o adversário conseguiu a carta que queria, vemos cada aposta dele como se fosse uma prova disso. Saiu o 8. Ele apostou alto. “Tá vendo? Ele completou a seqüência!”. Nesse momento, sofremos o viés de confirmação e esquecemos que, talvez, ele já tivesse apostando alto antes de a carta sair.

- Viés do Custo Irrecuperável: esse é uma praga no poker. Acontece quando investimos pesado em algo que acreditamos que trará retornos, e, apesar de surgirem evidências claras de que isso não seja verdade, continuamos insistindo como se nada tivesse mudado. Você começa com um par de ases. Ótimo. Aposta 400x. Um adversário paga. Tudo certo. Depois você aposta 800x, e ele aumenta para 1200x. “Esse cara tem alguma coisa melhor que o meu par... Mas já cheguei até aqui, fazer o quê. Pago”. Que feio. Você acaba de sofrer o viés do custo irrecuperável.

- Viés do Erro de Aleatoriedade: esqueça o que eu disse na explicação anterior. Não tudo, só a parte em que eu digo que se trata de uma praga do poker. O erro de aleatoriedade é a grande praga, na verdade. Engraçado que, se tratando de um texto digitado, eu poderia corrigir lá em cima... Mas do que se trata esse viés? Ele acontece quando vemos um sentido inexistente em acontecimentos totalmente aleatórios. Superstição, ou quase isso. Quando você recebe aquele 3 e 7, a sua “mão da sorte”, e aposta alto, é isso que você está cometendo.

- Viés da Compreensão Tardia: um exemplo: só agora, depois de escrever isso tudo, que eu compreendo que será inviável fazer um blog, porque eu escrevo demais. Na verdade não é isso, apesar de isso talvez ser verdade. O viés se constitui quando nos convencemos de que sabíamos o resultado de um evento, mas só depois de ele já ter ocorrido. Você tem uma trinca, e paga a aposta de um adversário. Ele mostra um flush. “Eu sabia que você tinha um flush...”, você diz. “Se sabia, por que pagou a aposta?”, digo eu. Apenas mais um caso de distorção pelo viés da compreensão tardia.

Friccionando pedras e gravetos

Esse blog está sendo criado para levar até qualquer um algumas análises e reflexões que surgem da minha cabeça. Caso contrário, elas desapareceriam para sempre.
Vou tratar de atitudes interessantes do ser humano no cotidiano, ou seja, coisas que eu observo e a partir das quais chego a conclusões próprias, que podem ser de divertidas à polêmicas, mas sempre descompromissadas. Sou influenciado pelas idéias darwinistas ou evolucionistas, e meus posts poderão procurar explicações por aí. Tudo com um toque de humor pra manter as pálpebras abertas.
Não tenho pretensão nenhuma de estar sendo científica ou academicamente adequado, até porque não realizo pesquisas e não me fundamento totalmente nelas. Pelo menos uma garantia o leitor terá: o que estiver aqui é original, apesar de poder não ser nem a primeira nem a trigésima vez que alguém observou o que descrevi.
Ao longo da maioria dos meus posts, também mostrarei como podemos ver os aspectos mais naturais e intrínsecos da natureza humana primitiva ainda vigentes no cotidiano e nas relações sociais atuais.

Continuamos fazendo fogo.